Saímos da cubata a enrolar panos.
Não ficou redonda,
mas era grande. Bem grande!
O Pedro, o Matias, eu e o Jonas
formávamos a defesa.
O Geremias era o guarda-redes.
Com ele era uma limpeza!
No meio campo
o Quim, o Malelê, o Chico e o “Rufia”.
Lá na frente o “Kiko” e o “Mantorras”
para fazer os golos!
Naquela tarde estávamos a ganhar
contra os miúdos da aldeia do lado.
Aqueles não jogavam nada,
mas conseguiram empatar,
porque o Geremias não estava nos seus dias…
E quando começou a escurecer
vi a jogada mais bonita,
mais raçuda e espectacular
da minha vida inteira.
O Jonas pega na bola a meio campo
e na esperteza dos seus pés desenha círculos
que confundem os adversários:
finta um, dois, três, quatro
e outra vez o terceiro…
E quando toda a gente já babava
e estava de boca aberta
remata de pé esquerdo do meio da rua.
A bola voa, ganha altura,
bate no poste e entra furiosa.
Foi a festa geral! Gritávamos
e saltávamos felizes, radiantes!
O Jonas foi naquela felicidade buscar a bola
e quando a trazia como um troféu
acima da cabeça de braços estendidos,
toda a gente o olhava e esperava dele
aquele abraço.
Mas esse abraço não aconteceu
porque aquele pé esquerdo maravilhoso
pisou uma mina perdida
e porque o Jonas…
o Jonas… morreu.
Sábado, 19 de Outubro de 2002
SAC