Oiço passos… tantos passos…
Uns atrás dos outros passos
e todos atrás de mim.
Nestes passos
resistentes, persistentes, insistentes
que me rodeiam, encandeiam, incendeiam a minha alma
sinto a amargura de não pertencer
e a esperança de algum dia morrer. Cedo.
Mas não calado!
Aqueles que passam
olham, mas não me vêem
e eu já os vejo
sem precisar de os olhar,
porque são sempre os mesmos
sempre a mesma indiferença
dos mesmos rostos e dos mesmos olhos
atrás da mesma hipocrisia
das mesmas conversas
e das mesmas ideias
sobre os mesmos assuntos
debaixo do mesmo egoismo
à volta do mesmo umbigo
vestidos da mesma maneira
vomitam para cima de quem ousa ser diferente.
E dizem que falam
dizem que raciocinam, cogitam, pensam
mas ignoram que é sempre por fora
esses reis da aparência
e do comodismo
e das revoluções com florzinhas
que proclamam a fotografia
e esquecem que a vida é um filme.
E nesta teia
que me trama,
nesta merda que me envolve,
que é do Homem
sem ter opinião?
Levanta-te,
mostra-te
e faz alguma coisa.
Ousa, abdica
e escolhe.
Serás sempre um triste homem
se o não fizeres.
Terça-feira, 4 de Fevereiro de 2003
SAC