sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ainda Bem


Um chupa-chupa amarelo,
um relógio sem ponteiros,
um televisor por acender,
um isqueiro sem cigarro,

um automóvel descapotável,
uma nau dos descobrimentos,
uma caneta cheia de tinta
e um papel cheio de branco.

Um banco com dinheiro
e sem ninguém sentado em cima,
uma toalha azul numa mesa,
uma mesa num bar castanho.

Um tijolo numa parede sozinha,
uma parede desenhada num guardanapo,
um guardanapo nos lábios de uma mulher.

Ainda bem que posso ser tudo isso, em pensamento


Quinta-feira, 2 de Outubro de 1997
Santos - Lisboa

A Perfeição da Mulher


A perfeição da mulher,
a força da Natureza,
o encanto de um sorriso
e o fascínio da beleza.

São lábios de beijar
aqueles que tens e eu desejo.
São lindos teus cabelos
de olhar, tocar e encantar.

Os olhos doces como o mel
derretem como manteiga,
sabem como morango e...
embriagam como champanhe.

O olhar. Esse elixir
de vida, Lua e sedução
que tanto quero
e tão pouco tenho,

será melhor não o beber.
Ficar só quem só o olha
é sorte, fado e destino
de quem se mira ao espelho e não se vê.

Mãos de fada encantada,
voz terna de sereia,
de princesa cinturinha
e um pé de graciosidade.

O outro corpo é de rainha,
deusa-mulher elegante,
sensual, sexy, formosa
como Afrodite romana.

Já com Vénus helena
é Lua da Lua em que estou
e parecendo que não
é noite que se faz dia,
é Sol que aparece e desfaz
os sonhos... em realidade.


Terça-feira, 21 de Novembro de 1995
SAC

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Espera


Espero por ti Lisboa
como se esperasse pela felicidade.
Espero por ti nas tuas ruas
como vivo todos os dias esta saudade.

Saudade, doce saudade
De nada esperar.

Sábado, 7 de Outubro de 2006
Restauradores - Lisboa

sábado, 3 de outubro de 2009

A Mesa e o Tampo


Ali a mesa estava.
À nossa espera.
Esperávamos nós por ela, sem saber.
E que pode acontecer para nós no seu tampo,
que não seja a ansiedade de nos revermos nela?

Gargalhadas, risos, pétalas de mar
e grãos de chá de flores.

O reencontro na distância e no prazer,
de nos vermos num tampo,
qual espelho?
qual vidro?

Perdemo-nos?
Perdemos-te?

Sim , até voltarmos a sentar-nos àquela mesa.
O tampo, somos nós.


Segunda-feira, 27 de Julho de 2009
São João da Talha
e algures no Facebook

Dubia Aeterna ou O Carteiro Morreu Quando Voltava


Serás tu... também
ou serei apenas eu.

Serei apenas eu a imaginar amar.
Serei apenas eu a amar o imaginar...

Serão os meus olhos que te fazem mais bonita?
Serão os teus mentirosos e ingratos?
Serão os meus ingénuos, mimados que fazem fita

quando te não vêem,
quando te não olham,
quando te não espreitam

fazem-se tristes, melancólicos,
fazem-se cegos, hiperbólicos,
fazem-se caídos, como lágrimas,
trago-os fechados, como cofres.

Guardam-te lá dentro
a dizeres o meu nome.
Guardam-te lá dentro
a pensares talvez.

Porque existes tão bela?
Porque existes tão formosa?
Poderias ser bela e formosa,
mas horrorosa na minha mente...
mas a mente não me mente
e quem se sente demente sou eu.

E pergunto-me vezes sem conta
se por uma hora que duvidasse existir,
por minuto que esquecesses a seguir,
por um só momento de loucura,
por segundo que se esgotasse,
por vácuo escondido na tua candura
de tempo diluído que parasse,
me amaste alguma vez.

Teus olhos não mentem,
teus olhos não choram, por mim,
teus olhos não vêem,
teus olhos não olham.

Se mentissem, não te amaria.
Se chorassem, eu os secaria.
Se vissem a luz que se acende
dentro do meu coração
quando os vejo...

Se vissem a grade que me prende
à tua sedução
e ao meu desejo...

Se olhassem, mas não olham.
Se olhassem, mas não vêem.
Se olhassem diriam que sim.

Que sim à vida e à coragem,
que sim à emoção e à verdade,
que sim mesmo que estivesse já morto.
Que sim, que eras fidelidade,
que sim, que eras tua e assim minha,
que sim, que eras e não ilusão.

Que não era só minha a ilusão,
que não era só meu o desejo,
que não eram só minhas as tuas palavras,
que não eram só meus os teus gestos
que prometiam a vida eterna,
que prometiam eterna esperança...

Que não, que não era eu,
que sim, que tu existias,
que sim, que as palavras eram tuas,
que sim, que eram teus os teus gestos...

diziam carinho e conforto,
diziam presença e ambição,
diziam piedade por um morto,
escreviam que me amavas,
mas o carteiro morria quando tu voltavas
a mentir, ou a dizer a verdade,
a sofrer, ou a esqueceres-te de mim,
a chorar, ou a limpá-las de tanto rir.

E os teus gestos diziam
não sei mais que saudades
e escreviam que me amavas,
mas o carteiro morreu quando voltava.

E os teus gestos diziam talvez.
E os teus olhos diziam que sim.
Mas o carteiro disse-me que não.


Quinta-feira, 8 de Agosto de 1996
SAC