sábado, 26 de setembro de 2009

Alguém que queres que diga


“Quem é por detrás da porta?”
É a tristeza assombrada
que bate com a tua mão.
É a tua alma que brada
palavras e versos em vão.

“Quem é por detrás da porta?”
Não abras que é ladrão,
ladrão de amor e carinho,
de conforto e rosmaninho,
erva-doce e castanhas no fogão.

“Quem é por detrás da porta?”
Amigo não queiras saber,
não queiras saber quem é
aquele que não quer saber
quem tu és, quem queres ser.

“Quem é por detrás da porta?”
Descansa não é ninguém.
Não sente, não dorme, não se cansa,
não se furta, não vive e não lhe dói
o que de vida são tuas lágrimas.

“Quem é...?”
Por detrás da porta?
Alguém muito especial
que não te quer.
Alguém que te olha
sem te ver.
Alguém que só é
se quiser.

Por detrás da porta amigo
está um mundo à tua espera,
está um fundo sem poço no cimo,
está alguém que bate com coragem.


Quinta-feira, 5 de Dezembro de 1996
SAC

sábado, 19 de setembro de 2009

Carmen


É dada à Natureza por Deus
e por seus dedos vales desenhados,
cobertos de veludos seus
que são os musgos orvalhados...

e por suas mãos colinas formadas,
mimadas pela suavidade pétala rosa...
nos seus braços são protegidas
as boninas que encantam a formosa...

Foi dada a Natureza ao Homem,
que soube dedilhar as faldas...
e abrindo montanhas,
escorregando pelas encostas,
enterra o arado nas entranhas
da areia p`la maldade e come o fruto
onde corre o rio que seca a sede,
que despe a fome ao mais bruto,
que traz a Lua ao diminuto
e leva o sonho ao tão arguto.

Que estranho violino realiza
tamanha afronta, tanto prazer?
Que estranhas cordas, espirais, ondas
encantam na ilha o enfurecer?

Tesouro mais bem guardado,
que tem na melhor guarda,
com medo de o perder,
a eterna, viva, liberdade
dos olhos, da mão e do prazer.

(Tesouro)
que mata mais sede que água,
que morre mais tarde que tudo,
que desfaz sempre toda a mágoa
e torna o sofrimento mudo.

Mais suave que a própria seda,
mais funda que qualquer ferida,
mais próxima que muita perda,
mais sentida que vivida.

Mais preciosa que diamante,
mais delicada que a rosa,
mais rica num instante
que a esmeralda por toda a vida.

Pelo doce mel de seus lábios
encantado, por seus cabelos
escondo o seu olhar nos olhos meus,
para que não me faça tal o Fado:
que me perca e logo diga adeus.

Sexta-feira, 5 de Maio de 1995
SAC