segunda-feira, 23 de março de 2009

Amor

O amor é o suicídio lento da alma

de quem se mascara com a essência,

de quem se esconde da insensibilidade,

de quem se despe quase com... displicência,

de quem liga ao que dizes sem querer,

de quem liga ao que queres sem dizer,

de quem se droga com um rosto,

de quem se embebeda com um sorriso,

de quem se não contém nem contenta com um corpo,

de quem só quer um pequeno paraíso.


Terça-feira, 28 de Janeiro de 1997

SAC

terça-feira, 10 de março de 2009

Sete rosas


Era uma vez sete vacas magras

e sete vacas gordas

que viviam nas suas sete quintas,

tendo por donos sete príncipes

que de idade tinham sete setes

e por fazer o sete com sete princesas

e apesar do sete feito,

pintar sete vezes o sete,

foram obrigados por seus sete pais

(por estes terem adormecido as sete filhas),

a correr as sete partidas de sete mundos

para descobrir as sete chaves

que de cada, sete encantos escondidos tinham,

como sete mares tem a Terra

e como sete cores o arco-íris tem.

Mas por ter sete fôlegos

os sete amores de cada um,

cada príncipe subiu sete vezes

e desceu de lá sete outras,

como se fosse fácil subir ao sétimo céu.

Mas de cada vez, das sete vezes que lá subiram,

apesar de serem sete príncipes que se gabavam

de sete ofícios saber

e de sete instrumentos tocar,

incluindo a flauta de sete tubos de Pã

e a lira de sete cordas de Apolo,

só sete das setenta e sete flores

conseguiram os sete príncipes de sete ofícios e sete quintas

trazer das sete vezes que subiram ao sétimo céu.

Esses sete príncipes tinham sete destinos

e esses sete destinos eram sete sonhos de sete princesas

e os sete sonhos das sete princesas

eram de sete só um: receber sete rosas vermelhas.


Sexta-feira, 5 de Janeiro de 1996

S.A.C.

Talvez imagines


Poeta!
Escreve-me um beijo
de que ela goste
porque eu gosto tanto dela.

Escreve-me o desejo
deitado ao mar.

Escreve-me o mar
deitado ao rio.

Escreve-me um relógio
sem ponteiros.
E um comboio
sem carris.

Escreve-me a morte
sem medo.
E a vida
sem alibis.

Escreve-me um precipício.
E escreve depois a minha queda
naquela boca tão feliz.

Escreve-me o Oceano
numa gota.
E talvez imagines este sentimento
dentro de mim.
E talvez imagines
a força que faço...

E agora peço-te:
escreve-me um lenço
porque a força que faço
é para não chorar.
P’ra não chorar
de tanto gostar.

Quinta-feira, 19 de Abril de 2001
S.A.C.