quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Berlinde


Berlinde! Gostava de ser como tu...

O teu mundo também é redondo, mas é simples.
O teu vidro é claro como as ideias dignas.
As tuas cores são límpidas como a água.
Os teus sorrisos são as tuas voltas e voltas sem parar.

O teu mundo é uma estrada que desce onde sobes.
O teu mundo é feliz sem abafadores.
O teu mundo é contente...

Não tens que amar ninguém
Não tens que ter bons momentos
para seres feliz...
Não tens que ter boa memória
para te lembrares deles...

Não és obrigado a gostar de seres humanos.
Não és obrigado a gostar da indiferença deles.
Não és fechado pela ingratidão
de uma pergunta que não se faz,
de um sorriso que não se olha,
de um abraço que não se dá.

Berlinde, redondo e insensível.
Gosto de ti assim... previsível.

Roda, roda sempre, sempre sem parar.
Não pares, pára nunca para quem está a olhar.
Sobe aos montes, desce aos rios.
Salta, desprende o teu sorriso
e anda, anda sempre sem pensar

nos rostos ingratos que te corcomem,
nos meus olhos que acabam de chorar,
nas vidraças partidas onde correm os sonhos,
nas bolachas derretidas por chamas de amor.

Não odeias, não gostas, não choras,
não ris porque te chamas sorriso.
Berlinde é alcunha que te dão
por não te saberem desenhar na alma de ninguém.

Berlinde! Agora que faço estas linhas
porque choras na minha mão?
porque desvelas a tua tristeza?
porque revelas a tua amargura?
porque olhas com teu olho de vidro?

Largo-te e és felicidade.
Deslizas pelos meus dedos e foges.
Rodas sem os teus medos e dormes.

Rodas sem parar parado.
Danças sem ligar gingado.
Tocas tudo o que te apetece.
Ligas só a quem te conhece.

Berlinde! Gostava de ser sorriso.

Sábado, 1 de Março de 1997
SAC

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