Choro na soleira da porta.
Não sei porque choro,
ou talvez saiba,
talvez julgue saber.
Choro defronte da porta.
Não sei porque choro.
Passa uma rapariga, para mim olha
e me vê a chorar, mas passa,
passa sem me beijar, falar...
Choro atrás da porta.
Não sei porque choro.
Passa um homem, nem repara em mim,
ou não quis e passa,
passa sem me cumprimentar...
Choro olhando a porta, escorregam-me as lágrimas.
Não sei porque choro.
Passa um rapaz, não me fala,
não me fala e vai-se embora...
Choro encostado à porta, escorrego com a dor, atroz...
Não sei porque choro.
Passa uma mulher, no jardim,
ela é bonita, mas não me liga
e passa sem me acariciar...
Não sei porque choro,
ou talvez saiba,
talvez julgue saber...
choro porque pintei mal a porta,
esborratei, estraguei a porta...
Mas é pouco para eu chorar,
mas então: - Porque choro?
Porque todos os transeuntes conhecia, com eles falo,
mas nenhum dos passantes me dirigiu a palavra.
Choro, de tudo choro.
Choro, porque de tudo choro.
Julho de 1993
SAC
Muitas vezes é assim... choramos por tanta coisa que se torna indecifrável distinguir a maior razão, apesar de, na realidade, sabermos exatamente que mascaramos as emoções para que não pareçam tão dolorosas... e choramos! Lindo pensamento em poesias deitado!
ResponderEliminarExatamente. Obrigado pelo comentário que se identificou com o sentimento partilhado no poema. Obrigado Silêncios.
Eliminar