sexta-feira, 12 de junho de 2009

Frustração

Já nada do que fiz me contenta.
Já nada do que tenho me interessa.
Já nada do que sinto me apetece.
Já nada.
Já nada.
Já nada.

Chamem um médico, que me sinto doente.
Chamem um psicólogo, que me vou suicidar.
Chamem um amigo, que me sinto tão só.
E chamem um polícia, que vou matar alguém,
talvez o amigo que me trouxeram, não sei.
Tragam-me um filósofo, que só sei que nada sei.
Tragam-me um bombeiro, que tenho o coração a arder.
Tragam-me um coveiro, para me desenterrar.
E tragam-me um juiz, para decidir por mim.
E tragam-me um professor, que acho que não aprendi,
mas que seja bom, senão mato-o também.
Tragam também um cirurgião plástico - estou farto do meu espelho.
E um qualquer político em que eu acredite.
E um bom vendedor, que me convença a viver.
E um bom actor, que me faça sorrir.

Se nada disto resultar...

Não me tragam doces.
Não me tragam crianças.
Não me tragam filmes e fotografias do meu passado.
Só me fazem chorar.

Tragam-me sim uma mulher que me ame
para que não me lembre,
para que não me desfaça,
para que me esqueça
que já nada do que fiz me contenta,
que já nada do que tenho me interessa,
que já nada do que sinto me apetece.

Segunda-feira, 19 de Janeiro de 1998
SAC

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