a vida assemelha-se
a um transporte público.
Mal que bastasse já era
a vida assemelhar-se a coisa alguma…
Certo dia incerto embarcas sem crer
no relógio descompassado que mede
algo que perdeste.
Por uma vez chegas a tempo
na rotina do cansaço
a tempo do tempo e do espaço
e do próximo comboio.
Aceito os apertos, os empurrões,
os cheiros pestilentos
dos sovacos malcheirosos,
dos hálitos apodrecidos
e dos pés mal lavados.
Aceito a violência gratuita,
de borla, sempre fajuta,
das facadas e dos assaltos
mão-armada ou pé descalço.
Aceito os idiotas dos anões
tão parvos que discutem, violentos,
virulentos assuntos tão pequenos,
tão mesquinhos, tão cheios de nada.
Aceito a minha condição pobre,
coitado, atirado, arremessado,
arrevesado de um para outro lado
ao sabor dos carris,
à medida de uma tosse de Inverno,
à sombra de um sol morto.
Aceito o descompasso,
o desencontro,
o desalinho, o desacordo,
a dança poli ritmada
de uma vida só com algum sentido:
o sentido do minuto…
que no minuto seguinte
já nada vale,
tudo desmente, desmonta e desfaz,
sujeito ao virar de uma esquina
inesperada,
ao virar de um beijo
roubado,
à curva do comboio de hoje
perdido.
Estou.
Lá.
E não me encontro.
Afinal o comboio, outro,
Vive dentro de mim.
E não sabia.
Quarta-feira, 6 de Setembro de 2006
S. João da Talha
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