sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dilúvio



Estou perdido, às voltas de um triste,
sem rumo bem no fundo de dois túneis,
onde o sol já brilha menos que a noite
e onde estalactites são armas em riste.


Sem que eu soubesse ou calculasse
o mundo ruiu, a Lua endoideceu.
Andava às voltas e volta como eu.
Marés subiram sem que a ave voasse,
tornou-se em peixe e a Terra morreu.


Sem que eu soubesse ou calculasse
em sonho a cidade morreu também,
pois os homens sempre foram de pedra
e eu sempre fui feito de sonhos
e esse sonho também era meu.


Nada fiz p’ra que isto acontecesse.
Andei depressa quando os pés não podiam,
subi montes e montanhas de sofrer,
quando o meu coração queria descer um rio,
 queria deitar-se no mar,
 queria despir-se contigo.


Só estou sentado na poltrona vaga,
sozinha cadeira, só de ninguém,
sem ti do meu lado, sem ti meu bem,
à espera de mim, à espera de alguém.


Nada fiz p’ra que isto acontecesse.
Andei depressa quando os pés não podiam,
subi montes e montanhas de sofrer,
quando o meu coração queria descer um rio,
 queria deitar-se no céu,
 queria dormir contigo,
 queria dormir sozinho.


Quinta-feira, 18 de Julho de 1996
SAC

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